terça-feira, 10 de maio de 2005
O preço da fama
Um dos malefícios da mediatização da arquitectura é sobre-valorização dormente daquilo que é caro. Basta passar os olhos pela lista dos vencedores do Pritzker para se perceber que o que ali se vê são as obras de arquitectura mais caras que se pode encontrar. Não pretendo com isto insinuar que é fácil fazer arquitectura com mais orçamento. O que me inquieta é pensar que o nosso espírito crítico baixou tanto que nem percebemos esse pormenor. O que se reflecte na arquitectura que vai fazendo história, que é quase unicamente de iniciativa pública, com recursos elásticos. Exceptuando a habitação (e as casas, também elas, caras), a arquitectura que tomamos por interessante caracteriza-se por um elevadíssimo preço por metro quadrado de construção. Inconscientemente (ou não) é mais difícil reconhecer qualidade em obras, diga-se, baratas. E contribui para que a arquitectura continue a ser vista como uma actividade que encarece a construção, tornando-a dispensável aos olhos dos promotores. Não tenho dúvidas que a batalha da arquitectura se ganhará provando a sua utilidade ao olhos do cliente, de qualquer cliente. Para isso a classe devia ter interesse em divulgar e premiar obras correntes, não no sentido da arquitectura banal, mas no sentido do orçamento vulgar. Tentar uma aproximação às necessidades do consumidor (a arquitectura, como qualquer outra coisa, consome-se). Conseguir que a arquitectura deixe de ser vista como um luxo.