sexta-feira, 13 de julho de 2007

Bah

Estacionamento selvagem? Bah. Está para durar; há cada vez mais carros em Lisboa e Lisboa está cada vez mais selvagem. Lixo acumulado? Bah. Os bairros de Lisboa, quando está sem chover por mais de um mês, são um contentor de lixo, detritos empurrados pelo vento, matéria suja ou orgânica deitada para a rua pelos queridos munícipes e pelas obras que nunca páram e ocupam a via pública como se todos tivessem de suportar a massa do cimento. Grafiti? Bah. Os meninos são protegidos pela ideia obtusa que vê naquilo uma «arte urbana» que tem o direito de sujar paredes públicas & privadas, granitos e gessos, tudo o que aparece à frente – sem serem punidos por atentado contra a propriedade e o bem público (a paisagem é um bem público). Jardins desleixados? Bah. Só uma parte ínfima dos senhores munícipes aproveita realmente os jardins; a partir das oito da noite, os jardins ficam sem luz e sem animação, entregues à fauna nocturna, porque os senhores munícipes ou estão sitiados pela selva e por essa fauna, ou não gostam de apanhar ar nem de contacto com «legumes» (é uma maneira de dizer) ou flores ou plantas que estejam vivas. Prédios em ruínas? Bah. Ouviram falar de arrendamento urbano? Não me refiro à construção de condomínios de luxo que continuarão a despovoar a cidade. Descargas de mercadorias a qualquer hora? Bah. Quem se dispõe a multar as carrinhas de distribuição que páram onde podem ou querem, em ruas estreitas ou nas «tão típicas travessas» de empedrado irregular que nos impede de dar dois passos seguidos, quando toda a gente estaciona onde pode, e o pequeno comércio não está disposto a receber mercadorias às horas que deviam ser estabelecidas (e são) para o efeito? Merda canina e columbófila? Bah. Os cãezinhos defecam às ordens dos seus donos em tudo o que é passeio e praça; quanto aos pombos, ah quanto aos pombos, eu nem sei o que diga e o mais suave seria dizer que são uma praga. Portanto, caro Pedro, ou esperas pela redenção dos senhores munícipes ou, aos poucos, teremos de procurar os lugares ainda não infectados por obras que se prolongam indefinidamente, pela fauna que anda de spray em punho a fazer «arte urbana» (coitadinhos dos «artistas»), pelas ruínas que se espalham pela cidade. Lisboa está suja porque Lisboa é suja ou porque os lisboetas a sujam?

Francisco José Viegas