quinta-feira, 10 de julho de 2008
Mãos
A «mão» é a entidade a quem Lobo Antunes atribui a autoria dos seus romances, naquilo que é uma fuga infantil das suas responsabilidades enquanto autor. É a «mão» que dita as frases e que faz avançar a acção. Como é evidente, é a «mão» que determina como começa e, sobretudo, como acabam os livros, e Lobo Antunes não faz a menor ideia de como irá acabar um romance quando o começa porque a «mão» não lho diz. Quando Charlie Rose perguntou a Ian McEwan (ver abaixo) sobre o momento em que este percebeu como iria acabar On Chesil Beach, McEwan estremeceu e disse «desde o princípio», confessando que a imagem que o assaltou foi precisamente a cena final e que todo o romance foi mais ou menos um pretexto para se lá chegar. Dito assim, parece fácil. Como aliás parecem fáceis os romances de McEwan, não como em «fácil Rebelo Pinto», mas em fácil de nos facilitar a vida. Não a vida enquanto leitores, mas a vida enquanto seres vivos. Perdi completamente o rumo a este post e agora tenho de ir almoçar.