segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Teotónio Pereira



A RTP2 passou no sábado um documentário sobre a vida de Nuno Teotónio Pereira, o que me deu a oportunidade de lembrar o quanto eu gosto deste homem que de vez em quando ainda se cruza comigo nas estações do metro como se fosse um comum mortal. Não é, não é, Teotónio Pereira é o expoente máximo (meço bem as palavras) da geração que fez da arquitectura portuguesa aquilo que a arquitectura portuguesa é hoje, que desenhou o Franjinhas e o Bloco das Águas Livres e as igrejas do Sagrado Coração de Jesus e de Almada e que parece estar sempre em paz. As imagens de arquivo mostraram-no a sair de Caxias, calmíssimo, de sorriso sereno, e mostraram-no também num comício cheio de gente aos berros a dizer que «a revolução tinha de ir até ao fim» que tinha de «ser radical» e mais não sei o quê, e mesmo aí a minha simpatia por ele não foi beliscada. A minha mulher assistiu ao fim do programa e conseguiu ouvir Nuno Teotónio Pereira explicar que fazia arquitectura «de dentro para fora», conceito que ela percebeu muito bem porque eu já a levei a ver a igreja do Sagrado Coração de Jesus, «de dentro para fora e não de fora para dentro, como se faz hoje, em que a imagem é tudo, que é uma atitude que eu critico muito», pelo que quando passámos ontem em frente a umas moradias projectadas por Frederico Valsassina ali no Estoril, uma toda em vidro muito exposta, outra toda em madeira muito simples, ela disse logo «estas casas não foram desenhadas de dentro para fora», pois claro que não foram, o Teotónio Pereira não pode estar em todo o lado e a maneira como ele e a sua geração fazia arquitectura morreu.