Se algum dia escrever a minha biografia, o ano de 2004 vai merecer um capítulo especial. O que não é mau sinal. Espero que assim continue: que todos os anos pareçam merecer um capítulo especial na história por contar.
Há razões e razões para isto. Não me interessa revelá-las todas, até porque as que não importam revelar não são as mais significativas. As outras sim.
Aos poucos vou desistindo. Poderia dizer que mudei, que estou a mudar. Mas não é isso. Vão caindo convicções artificiais. Coisas que sempre preferi serem verdade, apesar de para nisso acreditar ter sido sempre necessária uma boa dose de jogos de cintura argumentativos. Ontem, uma gota no copo de água. Já não dá para gostar de futebol, não o futebol português. Não sendo do Benfica. Não sabendo que o actual «estado das coisas» prefere os Sokotas e os Karadas ao Roger, emprestado lá para o Brasil. Esse sim, sabe tratar a bola, tem alegria no que faz e dá alegria a quem vê. Como aquele miúdo do Sporting, o Carlos Martins. Já não gosto de futebol. O Milan, o meu outro clube, há muito que representava o declínio do Calcio como espectáculo. Uma equipa onde Gattuso, Pirlo, e Seedorf podem jogar juntos, mas onde Kaká e Rui Costa não. Em Espanha ainda se consegue ver qualquer coisa, mas só ao nível do Barcelona, Real Madrid ou Corunha. Alguém perde tempo com um Albacete-Numancia? Mas é em Inglaterra que ainda mora a última esperança. Aí ainda se pode gostar de futebol, ainda nos dão razão para isso. Não falo de um Liverpool-Arsenal, mas sim de um Bolton-Aston Villa, ou de um Tottenham-Everton. O prazer do jogo em si, da coisa pura, do estádio cheio.
O futebol para mim acabou. Acreditem, isto é caso sério.