Sempre tive a tendência para relativizar. Tudo. Encontro sempre na mudança constante ("mudança constante", bela expressão) de pontos de vista um prazer que se assemelha ao da criança que descobre um brinquedo novo. O referencial não tem a origem definida, e isso agrada-me. Se estou com A, defendo B, e se estou com B, defendo A. Pelo meio aprende-se e apura-se a máquina. Os poucos assuntos que não eram alvos de relativismos foram aos poucos caindo, e hoje não conheço nenhum. Posso dar o exemplo da arquitectura, mas isso não chegaria. Esta atitude não tem explicação. Nem revela falta de convicções, entou convicto. O que é uma convicção? Convicção política? Moral? Artística? Não servem para nada. Einstein provou-o numa expressão. Tudo é relativo.
Acontece que desde há algum tempo vivo com algo que não se sujeita a qualquer tipo de relativismos. Não é fácil de explicar. É o meu "0,0,0" há muito flutuante. O ponto de onde as outras coisas se medem. E se comparam. Claro que isto dá um grau de liberdade para os outros relativismos ainda maior. Tudo o que não precise de pôr em causa a origem perdeu o ténue fio que o agarrava, e soltou-se, ficando alvo fácil das brisas e correntes. Quando se tem uma âncora deste tipo a confiança cresce. Isto espanta quem vê de fora, que esperava uma acalmia do estado do mar, e vê a ondulação subir de meio metro para dois metros. Fica por explicar que apesar do estado do mar se ter agravado, nunca se tinha atingido tal estabilidade. E é verdade que isto tudo me deixa por vezes como boi para palácio, pondo seriamente em cima da mesa a hipótese de existência do absoluto.