2004 foi fértil em acontecimentos arquitectónicos. Aqui fica uma possível revista:
1. Os estádios do Euro-2004
O resultado global podia ter sido melhor. O Estádio de Braga valeu justamente o Secil a Souto Moura. Ali agarrou-se a oportunidade para fazer uma reflexão sobre o estádio moderno, como por exemplo a supressão das bancadas de topo (que oferecem um ângulo de visão bastante diferente do televisivo, logo menos apelativo), ou a imensa cobertura aberta, «à Siza» como lhe chamou Souto Moura. Ao mesmo tempo é um estádio que vai buscar as suas referências ao Teatro Grego, no modo como usa a topografia e a vegetação (as árvores de proscenio que estão por crescer atrás da baliza que se abre ao céu.) O Estádio de Braga foi, por si, o grande acontecimento do ano. Dos restantes, nota para a intervenção urbana feita nas Antas: mais do que o estádio (limpo, bonito, corrente), aproveitou-se a oportunidade para uma profunda transformação da área, com a introdução de novas referências urbanas (o Parque, a Avenida). Dos restantes, nota para os azulejos de Alvalade, o colorido de Aveiro e Leiria (todos de Tomás Taveira), e para o fecho do Estádio do Bessa, uma caixa paralelipipédica enfiada num tecido urbano apertado, e para o trabalho competente realizado em Guimarães.
2. As Torres
2004 foi também o ano do regresso (ou continuação) da discussão sobre a construção em altura. Deve-se este facto sobretudo à proposta de Álvaro Siza para Alcântara, entretanto já abandonada. Também Norman Foster se juntou à festa com a proposta para a área do aterro da Boavista, com o seu Quarteirão do Design, a sua analogia foleira com a praça de S. Marcos e a sua torre de 100 metros de altura. Foi também publicada a tese de mestrado de José Romano, EDIFICIOS EM ALTURA, FORMA ESTRUTURA, um importante contributo para a discussão.
3. Gehry e os projectos-estrela
A reboque do Parque Mayer lançou-se o tema dos grandes projectos de autores-estrela, membros do star-system internacional. O modo como Frank Gehry foi sendo apresentado nos media nacionais abriu precedentes que por certo vão ser aproveitados no futuro pelas mais diversas entidades (públicas ou privadas) no sentido de fazerem aprovar as suas iniciativas. Em Lisboa, além do já citado Foster, contam-se também projectos de Jean Nouvel (em Alcântara), de Renzo Piano (em Braço de Prata) e da OMA (a Casa da Música).
4. A Casa da Música
É difícil falar da Casa da Música como um evento de 2004: já vem de antes e não acabou ainda. No entanto, 2004 foi ano da concretização do projecto da OMA: as paredes inclinadas cresceram, confirmaram o entusiasmo dos mais crentes e os receios dos seus detractores. Colocada no ponto central do Porto, a rotunda da Boavista, a Casa da Música assume-se como uma referência à escala da cidade, pela sua singularidade e qualidade. Pena que não se tenha protegido a obra se tenha permitido a (futura) construção de um edifício de escritórios, sem história, colado ao terreno da Casa da Música.
5. A Experimenta-Design
Na arquitectura a Experimenta promoveu a divulgação dos projectos dos Silos Automóveis para Lisboa (com uma sigla muito arquitectónica, SAL). Tema essencial numa cidade como Lisboa, os Silos tornaram-se, talvez estranhamente, numa oportunidade para a elaboração de vários projectos arriscados e experimentais. Se atentarmos ao facto de os silos serem estruturas puramente utilitárias e potencialmente desinteressantes, não deixa de surpreender (pela positiva) a qualidade das propostas apresentadas.
6. A iniciativa do Público
(11) Arquitectos Portugueses Contemporâneos, assim se chamou a colecção de fascículos editados pelo jornal Público. Projecto coordenado por Ana Vaz Milheiro, Ricardo Carvalho e Jorge Figueira (os críticos do jornal) foi um acontecimento pioneiro ao nível da divulgação para o grande público.
7. O 73/73
Anunciada a sua revogação, o decreto de lei continua vigente. Até quando?
8. O Concurso para o Museu de Foz Côa
Ganho por uma dupla de jovens arquitectos, Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, ambos oriundos do Porto e com a escola de Souto Moura.
9. A reeleição de Helena Roseta
Sem lista opositora. Na cerimónia de tomada de posse, Helena Roseta apresentava no casaco uma rosa cor-de-rosa.
Esta uma lista informal, totalmente improvisada, e obviamente sujeita a actualizações nos próximos tempos. Aceitam-se sugestões.