Paula Rego tem um universo tecnico-formal absolutamente fechado. Exprime-se de uma determinada maneira, que todos sabem já identificar, e não parece interessar-se por mais nada. A razão é simples: Paula Rego tem histórias para contar. Não se deixa fascinar pela pintura em si, não se deixa levar pela atracção do experimentalismo. Por isso o abstracto em Paula Rego seria um absurdo. O seu universo é figurativo e evocativo. As formas humanas parecem ser sempre as mesmas. E se calhar até o são, as formas, porque as formas assumem sempre um papel secundário. Importante são as situações, as relações, os episódios. Paula Rego tem muitas histórias para contar. Histórias (melhor, estórias) violentas, reais, perturbadoras, grotescas. Histórias que precisam que alguém as conte. Paula Rego construiu um universo próprio baseado nesses pequenos argumentos que vai pintando. A pintura, essa, vai ficando cada vez mais igual a si própria. É bom sinal quando os artistas ainda sentem que têm algo a contar.