Percebo que não quero desejar nada de extraordinário para 2005. Talvez seja por isso que nunca tenha gostado particularmente dos rituais de passagem de ano. Para já irrita-me a expressão mais usada por estes dias: «onde vais passar a passagem de ano?» Passar a passagem? Poupem-me. Não me toca também aquele sentimento de pessimismo da passagem de ano. Pessimismo?, pergunta o leitor, mas então não é o optimismo o sentimento associado ao «ano novo»? Não, não é. O optimismo não é mais do que um estado de negação do pessimismo. Pela experiência sabemos que vamos chegar ao final de 2005 a pensar ainda bem que vem aí 2006. Tal e qual como agora. Por um lado isso explica a euforia generalizada pelo fenómeno: a passagem de ano é o único momento em que não nos podemos lamentar de nada. O ano que acaba de findar já lá vai; e o que acaba de chegar ainda não nos ofereceu nada para além de alcóol e passas. É o momento exacto para inventarmos um optimismo inexistente, porque o estado de regret começará logo no dia seguinte. Puta de ressaca.
Tal como o FNV, o que eu queria é que o ano novo fosse igual ao velho. Já não era nada mau, nada mau mesmo.