Attack and defense, invasion and repulsion . . . it was as if breasts were little pieces of property that had been unlawfully annexed by the opposite sex—they were rightfully ours and we wanted them back.
High Fidelity, Nick Hornby
Agarro a oportunidade para falar de mamas (não, não digo nem peito nem maminhas, prefiro a palavra certa). O decote é, provavelmente, o mais complexo dos sinais sociais. As premissas que lança sobre a relação homem-mulher são dúbias e subtis, contrastando com a sua própria natureza. Em condições normais (quando não se trata de uma imposição exterior) o decote é sempre uma escolha voluntária da mulher. Sou capaz de compreender que a relação das mulheres com essa área específica do corpo nem sempre seja a mais pacífica. Ou melhor, nunca seja pacífica. Mas é claro para todos que um decote é uma declaração de guerra. Atendendo à própria natureza masculina, o decote surge como um trunfo imbatível. E isso deve-se a uma regra (preconceito) social que nunca deve ser quebrado: um decote não pode ser olhado. Ele existe para ser visto, está-lhe escrito na cara. Melhor, ele existe para ser notado. Mas em circunstância alguma ele deve ser mirado. Esta frágil linha que separa uma coisa e outra exige dos homens um poder de concentração quase sobre-humano, que suga todas as energias e deixa à mulher terreno livre para operar a seu bel-prazer. As mamas, mesmo quando actuam sem a preciosa ajuda do decote, são a melhor metáfora do jogo do desejo, aqui jogado no olhar. Mas atenção: quando é a própria mulher a subverter o jogo (sobre-expondo as mamas) então tudo o que disse anteriormente deixa de fazer sentido.