«O jardim é o primeiro passo para nada se resolver.»
Desta vez não concordo com o João. Não me interpretem mal, acho a prosposta de Carrilho disparatada, fazer um jardim ali. Mas se há coisa que em Lisboa se reclama duramente é a existência de mais jardins, jardins bem feitos, grandes, consequentes, de estar, de respirar, espaços públicos por excelência. Abrir vazios, como vai dizendo por aí Manuel Salgado, é uma tarefa que se impõe à capital nos próximos tempos. Criar estruturas verdes realmente estruturantes, e não apenas uns canteiros inócuos (como o futuro jardim do Arco do Cego). Lisboa precisa de jardins e de gente nos jardins, quotidianamente. É uma das grandes chagas do séc. XX e do modernismo: a desconsideração pelo jardim enquanto unidade urbana, quando tudo ficou reduzido a rectângulos funcionais, com o verde a servir de contínuo onde se implantam os blocos . Lisboa tem um complexo com o verde. Pensa que Monsanto resolve o problema dos índices (tudo é medido em índices abstractos, que nada explicam), sem perceber que um pulmão desertificado só serve para descargo de consciência.
P.S: E há ainda o clima a ter em consideração. Sempre me pareceu um paradoxo que fossem os britânicos a dar lições sobre como desenhar e construir jardins, eles que vêem o sol quando a rainha faz anos. Nós, por cá, ou estamos em casa ou a caminho da praia, quando o termómetro passa a marca dos 25 graus. Não faz sentido. Não há melhor do que um dia de sol no jardim.