«(...) Do ponto de vista ideológico, como se sabe, a direita é patrimonialista, enquanto a esquerda reivindica igualmente o apoio à criação. Confesso que sou "de esquerda" nessa matéria (só mesmo nessa). Não há património futuro sem apoio presente à criação. O apoio estatal deve ficar com um papel supletivo, em áreas que o mecenato privado descura. Mas, no momento actual, o mecenato descura muitas áreas. Sem dinheiro público, não existe cinema, teatro ou dança.
Convém dizer que nessa matéria a divisão entre esquerda e direita nem sempre é apenas ideológica. É também de gosto. Sei que generalizo, mas conheço o quintal a direita (a direita política) não se interessa pela cultura. Assim, é natural que prefira o consensual Mosteiro dos Jerónimos aos perigosos Artistas Unidos. A esquerda, pelo contrário, sempre se interessou muito pela cultura. Mas os políticos de esquerda gostam demasiado da cultura como forma de legitimação, e dão o cavaco por uma corte de artistas agradecidos e serviçais. Ora espreitem os tempos de antena. (...)»
Pedro Mexia, DN 11.02.05