O Pedro não gosta da definição de arquitectura como "a arte de fechar o espaço". «Misturar arte e clausura deixa-me desconfortável», afirma. Assumo que o Pedro se refere ao que escrevi. Por isso devo corrigir. O que escrevi foi que a arquitectura (é) o modo como o Homem decide encerrar o espaço.
Como considero que esta é, de todas as tentativas já realizadas, a melhor definição da coisa que encontrei, prossigo para uma explicação.
Em primeiro lugar esta frase, de modo algum, relaciona a arte com clausura. Clausura é algo que carrega uma conotação bastante mais forte do que o simples gesto de encerrar o espaço. E além disso penso que a palavra chave desta afirmção é o «decide». Vamos a isto.
A matéria prima da arquitectura é o espaço. Não deve haver outra palavra mais vezes referida quando se fala ou escreve sobre arquitectura. Claro que esta situação só se verifica depois do modernismo. E, apesar da tentativa de Kenneth Frampton em reescrever a História da arquitectura do século XX como a História da Construção, considero que é uma assunção correcta. Parece pacífico relacionar directamente arquitectura com espaço. Importa agora definir qual a natureza dessa relação.
O espaço é infinito. O espaço, dito assim, não tem limites. É isso que o define: a ausência de limites. Podemos dizer que o espaço natural, intocado pelo homem, não conhece fronteiras. É algo abstracto que o Homem pateticamente tenta resumir num sistema de coordenadas em 3 eixos. É frequente haver a associação do espaço com vazio. É esta a minha interpretação da palavra. Posto isto, como se pode definir a arquitectura como sendo uma actividade que tem por matéria-prima de eleição este conceito de espaço?
É frequente dizer-se que o primeiro gesto arquitectónico da História foi a escolha de uma caverna por parte do, e chamemos-lhe assim, primeiro arquitecto. Ele (e a sua tribo) não se davam bem com a imensidão do espaço que o rodeava: era algo que não conseguia controlar e o expunha a todo o tipo de perigos. Perante isto, a sua decisão (cá está a palavar chave) foi procurar um local onde o espaço estivesse claramente encerrado. A caverna garantia-lhe isso: há uma entrada, uma fronteira, que pode ser controlada e usada para definir uma diferença espacial entre o dentro e o fora. Não houve desenho, não houve planeamento, não houve construção. Estas 3 palavras são exemplos dos conceitos que se procuram frequentemente para definir a arquitectura. Contudo constata-se que a arquitectura não precisa deles para se definir. Pode haver arquitectura sem desenho, sem planeamento, ou sem construção.