sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005
No atelier do Gonçalo Byrne trabalham 10 pessoas
Uma dezena. Vá lá, em dias de festa, uma dúzia. Gonçalo Byrne (que, e abrindo um parêntesis para dizer uma verdade, cumpre a primeira regra para ser um bom arquitecto, tem um nome que vende, que cativa, Byrne, com y, o que me levaria desde já a uma profunda análise deste facto com provas retiradas de uma amostra considerável e fiável analisada ao milímetro pelo Pedro Magalhães) é um dos grandes. Não vale a pena sequer entrar em relativismos arquitectónicos, até porque se formos por aí vou acabar por dizer que a arquitectura de Gonçalo Byrne até nem me diz muito, o que, como se pode ver, seria motivo para arrependimento imediato. Adoptemos, por isso, um estado de vassalagem devida: Byrne é um mestre. (Coitado, nunca fez uma universidade de jeito, ouvi eu alguém dizer, alguém que não convém ser agora para aqui chamado, só lembrei este comentário para não me esquecer de o ignorar, mesmo se veio de quem veio.) Domina todas as escalas, e desde já se afasta a ideia que estamos em presença de um artesão bem treinado, um poeta da intimidade. Não, Byrne é um arquitecto de mão-cheia, alguém a quem eu confiaria o projecto da minha casa ou, se fosse ministro das cidades, todo o plano estratégico do ordenamento do território (não tenho paciência para ir verificar qual o nome certo desta coisa, mas será qualquer coisa parecida). E não se fica por Portugal, já demasiado pequeno para a sua dimensão. Agora, finalmente, chegamos onde quero chegar. Dizia um amigo que não percebia como, num país devastado por construtores de Norte a Sul, podia Gonçalo Byrne ter um atelier de 10 pessoas. É um crime, acrescento eu, que Byrne não queira inventar um império da construção, tomando pelos cornos os patos-bravos do país real, afastando-os para a sargeta e dizendo, alto e em bom som, agora mando eu. Isso não acontece e não vai acontecer. Talvez seja esse o segredo da qualidade da arquitectura portuguesa, esta estrutura familiar que se organiza em 3 ou 4 assoalhadas ali (aqui) no Rato. Mas fica sempre um travo de mau gosto por saber que tudo poderia ser maior, mais ambicioso, mais interveniente. E, se assim fosse, não teríamos 20 ou 30 obras de Gonçalo Byrne espalhadas pelo país, mas sim 200 ou 300. Este rectângulo à beira-mar plantado seria então um local muito melhor. E quem diz Byrne diz...