quinta-feira, 28 de abril de 2005
Duas sem tirar
Pulula por aí um inquérito literário. Desconhecendo quem inventou a coisa dá mesmo assim para perceber que é alguém que conhece bem o mercado: fazer perguntas sobre livros a bloguístas é a mesma coisa que colocar um microfone a trinta centímetros da boca de Francisco Louçã. Ou um espelho em frente de José Castelo Branco. Ou uma folha de papel por baixo da mão de António Lobo Antunes. Ou... Acho que me fiz explicar. Há no meio disto tudo um fenómeno que me atormenta. Há vários, para ser sincero, mas um eleva-se sobre todos os outros. Falo do número consideravelmente elevado de pessoas que diz estar a ler dois ou mais romances ao mesmo tempo. Que se responda estar a conciliar a leitura das instruções da mesa de cabeceira comprada no Ikea, o último Paulo Coelho e o Portugal, Hoje, o Medo de Existir ainda percebo, pois tratam-se de obras não muito exigentes e que se acabam por se complementar. Mas, senhores, dois romances (ou mais) ao mesmo tempo? Qual é a vantagem de ler dois romances (ou mais) em paralelo comparado com lê-los em série? Mais: qual é o critério? Ler dois (ou mais) romances ao mesmo tempo só se pode explicar pela existência massiva de múltiplas personalidades por essa blogosfera fora. É como se fosse heterónimos leitores. Almas diferentes que exigem palavras diferentes. Alguém que me explique. Agradecido.