Segundo li há dias, consta no recém entregue Projecto de Revitalização para a Baixa-Chiado a possibilidade de haver cotas para a classe média nas futuras habitações recuperadas. No site da CML cita-se Maria José Nogueira Pinto: «(...) [a política sectorial de habitação do projecto] vai permitir estabelecer uma cota para o segmento da classe média, que é no fundo a população que a Baixa sempre teve. Não queremos que aconteça o mesmo que no Chiado, cujo metro quadrado se ficou em valores muito altos. A Baixa tem de ser diferente. (...)» Este «tem de ser» arrepia-me. Mais me custa ouvir isto vindo de alguém que pertence a um partido que se diz liberal. Gostava de ter acesso a este Plano para o analisar com atenção, mas à partida esta ideia das cotas parece-me uma péssima ideia. Por uma razão de princípio, e por um rol de razões práticas. A existência de uma cota para a classe média pressupõe um custo para alguém, e esse alguém é o potencial investidor. Se eu, como investidor, vir limitado, por lei, o lucro que poderei obter, se calhar vou investir o meu dinheiro para outro lado. E a não ser assim, é a CML que vai suportar esse custo, através de subsídios a fundo perdido, directos ou indirectos, coisa para a qual não me parece haver condições. Enfim, fico desapontado. Como vou passar a morar brevemente na Baixa (não precisei de um Plano para me convencer) esta questão passa a afectar-me directamente. E a questão das cotas prejudica-me: acabo de comprar uma casa no mercado livre, espero poder vendê-la também no mercado livre. E ao querer, por lei, fazer baixar o preço por metro quadrado na Baixa, a CML está a baixar o preço por metro quadrado da minha casa (porque é que alguém há-de querer comprar a minha casa quando tem ao lado uma outra mais barata, subsidiada pelo Estado?). Quem me paga o prejuízo? Adiante. Vou para o Ikea.