sexta-feira, 25 de maio de 2007

Estoril-openização

(...) É o que dá esta invenção ridícula dos estádios confortáveis e dos espectáculos seguros e com condições: agora lá vão as familiazinhas, todas unidas e a passarem o "tempo de qualidade" juntas como recomendado pelos psicólogos..... vai tudo à bola: crianças, adolescentes, paneleiros, lésbicas e, ultimamente, até mulheres.

Não admira o estado deplorável das actuais assistências. Sou do tempo em que o jogo se via sentado em bancos de pedra ou no peão, à chuva e ao sol, mas sem abrir o bico porque o Oliveira estava a dar uma cueca a um gajo do Vizela. Hoje em dia não. Vai-se para o futebol como se fosse para o Lux: ver as outras pessoas iguais a nós. Nestas condições não é possivel desenvolver um trabalho de fanático com um mínimo de qualidade. (...)

maradona, em rescaldo

Eu sabia que havia uma razão para ter deixado de ir ao futebol. E sabia também que isso tinha coincidido com a demolição da antiga Luz e a construção daquele cesto de pão, o Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Sabia também que muita coisa tinha ficado debaixo daquelas pedras, como aquele jogo contra o Farense (aliás, dois jogos contra o Farense, já falo do segundo) em que chovia a cântaros num Domingo à noite e em que eu, desprovido de guarda-chuva, abandonei, mais umas quantas pessoas, o jogo ao intervalo, não só porque tinha água a trepar-me por todos os orifícios mas porque o Benfica estava a perder 0-1, só tendo visto, por isso, em casa a reviravolta da segunda parte (2-1). Senti que tinha traído o clube, senti. Ou o outro jogo contra o Farense, num belo dia de sol com estádio cheio, onde aos 10 minutos de jogo já o resultado ia em 2-0, para o Farense, com dois golos de um preto que já não me lembro qual deles era (talvez o Chiquinho Conde, lembro-me que era um gajo que já tinha passado pelo Sporting), e que acabou 6-2, com hat-trick do Maniche (do tempo em que ele jogava a extremo-esquerdo), resultado apenas obtido após a cirúrgica lesão do preto, quando o resultado ainda marcava 0-2. Adiante. Neste estádio novo, onde não chove e está sempre sombra, há qualquer coisa que falta. O foco de interesse balança-se entre o relvado e as bancadas, o que, como mostra o maradona, é triste. É a estoril-openização do futebol, a todos os títulos lamentável.