terça-feira, 1 de maio de 2007

Oioai

Pedro Puppe e companhia apareceram para lembrar que o rock (porque é isso que eles fazem) é a mais democrática das artes musicais. Os «Oioai» (manifestação número um da carta de intenções) são uma banda portuguesa de música popular (leia-se, mais uma vez, rock), interessada em dizer o que lhes vai na alma, sem que para isso tenham de recorrer a mais do que três acordes por tema (exagero estilístico, meu e deles). A excessiva cantabilidade dos refrões, o som simples das duas guitarras cruas e só ligeiramente distorcidas, as melodias contagiantes do baixo e a batida simples da bateria, abrem caminho à adesão do ouvinte, que vai encontrando afinidades nas letras cantadas pelo timbre esforçado da voz limitada de Puppe. Porque aquilo a que se propuseram os Oioai foi cantar canções de amor, e essa surge como a motivação primordial (mesmo antes da aprendizagem dos três acordes), o que os define como uns trovadores contemporâneos e urbanos do amor, de uma certa classe jovem, educada e lisboeta. Puppe vai escrevendo cartas às meninas da geração Erasmus, mostrando que está só e revoltado com a distância: elas vão fugindo para Barcelona, ou para Londres, cidade que Puppe quer incendiar (E agora o que é que eu vou fazer), num Blitz amoroso armado por uma Telecaster violentada. Musicalmente, os Oioai nunca saem da previsível articulação de acordes, colmatando a falta de inventividade com uma vontade que explora ao máximo essa limitação: o single, Jardim das Estátuas, é um tema de dois acordes apenas, como que a provar aquilo que dizem na entrevista que disponibilizam no seu site: mais de três acordes é jazz. Esta humildade ingénua terá nascido verdadeira, não duvidamos, mas é evidente que se tornou em algo que os Oioai não querem abandonar, mesmo que aprendam o quarto acorde. A comparação com os Toranja é inevitável, mesmo que isso os irrite: Puppe é amigo de Bettencourt, trata-se de rock cantado em português, até o modo de tratar o amor é semelhante. Mas fica a sensação de que os Oioai não se levam tão a sério, e que tocam não por necessidade artística mas por puro gozo juvenil. É um álbum que tem andado em repeat cá por casa.