Gostos não se discutem: partindo do princípio que ignoramos a inanidade deste postulado, não será polémico afirmar que ele é usado com frequência no campo estético da vida das pessoas. Ora, isto enerva-me. Enerva-me que se tenha chegado a um estádio** civilizacional onde (1) se julgue que o «gosto» não se discute e que (2) a estética é um gosto. Meus co-cidadãos: a estética não é uma questão de gosto e é por isso mesmo que ela não pode ser alvo de «discussão», como vocês o põem. Há uma grande diferença entre ser um esteta ou um esteticista. Estou muito cansado, e gostava que não fosse necessário ter de aqui voltar para repetir esta explicação outra vez*.
* «Repetir outra vez», quando se quer apenas «repetir» alguma coisa, é outra que me enerva. Mantenham uma distância higiénica se é para falarem assim com esse, hum, mau gosto.
** Já usar correctamente a palavra «estádio» quando o zeitgeist impõe um duvidoso «estado» é estecicamente superior, como o é a cuidadosa troca de ordem destas notas de rodapé, não sei se repararam.