sábado, 10 de janeiro de 2009
Freitas e Agustina
No dossier Agustina Bessa-Luís da LER de Janeiro contam-se alguns depoimentos de personalidades que mantiveram uma relação com a escritora. Entre eles, Diogo Freitas do Amaral, que na sua campanha presidencial de 1986 contou com Agustina Bessa-Luís como mandatária. Freitas cita «de memória» a conversa onde Agustina aceitou o convite. Em sua casa, no Porto, Agustina serviu «chá e scones» e declarou que aquela era uma eleição «muito importante» para o país, para a sua consolidação democrática, e que os portugueses tinham «muita sorte» por estarem em disputa «os dois melhores candidatos que, neste momento, a esquerda e o centro-direita têm para apresentar». Não sabemos se a conversa decorreu deste modo, mas sabemos que, devido ao estado de saúde de Agustina Bessa-Luís, vamos ter de aceitar esta versão. É pena, porque isto não cheira bem. Este diálogo parece encaixar com demasiada suavidade na revisão história que Freitas tem vindo a fazer à sua biografia - sobretudo na preciosidade linguística que é a «esquerda» e o «centro-direita». Não tenho dúvidas que o Freitas de 2008, colocado em 1986 para decidir entre ele próprio e Mário Soares, escolheria Soares. Mas é no mínimo deselegante arrastar indefesos para a lama.