terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O Cannavaro, por exemplo
As minhas reservas em relação à Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo nada têm a ver com a pessoa ou o indivíduo ou a personalidade. Tenho reservas em relação à pessoa ou ao indivíduo ou à personalidade como tenho reservas em relação à maioria dos seres humanos e porque reconheço que não é Rui Costa quem quer. As minhas reservas em relação à Bola de Ouro de Ronaldo, ao coroamento de Ronaldo como o melhor do mundo, têm única e exclusivamente a ver com o seu estilo de jogo e resumem-se no seguinte preconceito: Cristiano Ronaldo é, de facto, melhor do que os outros (excluindo Kaká e Messi, tenham lá paciência) mas sofre do mal de ser evidente que se esforça mais do que toda a gente. Num mundo onde o esforço e a dedicação estão em crise é quase um sacrilégio diminuir alguém por apresentar sinais evidentes desse esforço e dessa dedicação e eu não cometo a imprudência de julgar que a minha posição é moralmente louvável. É o que é, não consigo evitá-lo, e mantenho a atitude filosófica de partir do princípio que não se chega a melhor do mundo correndo mais do que os outros. Correr mais do que toda a gente, treinar mais do que toda a gente, marcar mais golos do que toda a gente devia dar para o segundo melhor do mundo, mas não para aquele a quem se dedicará epopeias e sinfonias. Ao melhor do mundo não basta ser o melhor do mundo, tem de parecê-lo. Será uma questão ideológica? Talvez: não gosto de acreditar que se pode chegar a melhor do mundo; ser o melhor do mundo não pode ser uma hipótese em aberto para ninguém e ai do Sócrates que se ponha aí a prometer bolas de ouro nas escolas. E isto não tem nada a ver com o facto de Ronaldo ser português, não me lixem: estou preparadíssimo para reconhecer que o Miguel Vítor é melhor do que o Cannavaro, por exemplo.