quinta-feira, 14 de julho de 2005
51 Ou a interrogação sobre a origem do eufemismo «dormir com»
«Sms para a Áustria, dois segundos», e o meu interlocutor esperou pacientemente os vinte segundos, não dois. Sent, delievered, dez minutos e estou em casa. Quando o telefone tocou podiam ter passado cem minutos que a sensação seria a mesma: o despertar repentino com a luz ainda acesa. Estás ofegante, então não haveria de estar, se vim a correr. Acordei-te? Sim, mas esperava-te. O estado de vigia durou pouco, deixou-se vencer pelo habitual conforto que já se tornou hábito. Acho que descobriste que a solidão é mais nítida no exacto momento em que adormecemos. Nesse instante nada pode ser tão evidente como essa certeza. Por isso se tornou tão importante essa observação à distância até ao último momento, a tentativa de partilhar o ponto exacto em que se passa da consciência para a inconsciência. Como se se pudesse isolar esse ponto, tal e qual a bola que se atira ao ar e que dizem parar antes de começar a descer. Esse ponto de inflexão do gráfico que se percebe vulnerável e sugestionável. No fundo é um desejo, uma mensagem, uma intenção clara sobre o enredo que deverá ser produzido pelo cérebro em descanso. Pode dizer-se que é forçar a coisa, mas costuma dar resultados.