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Inaugurou ontem oficialmente o Teatro Azul em Almada, projecto de Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, com Gonçalo Afonso Dias. Sem dúvida uma pedrada no charco (leia-se Portugal). É forte, musculado, berrante, divertido, intrigante, complexo, variado, marcante. Enfim, um sucesso. De certa maneira acaba por ser um edifício muito vicentino. O despudor pela forma, as referências que surgem das mais variadas experiências humanas, a volumetria pesada, a geometria extremamente complexa, a cor. É um ponto assinalado e assinalável num contexto urbano pouco qualificado, tornando-se numa tentativa de servir como charneira de uma identificação do lugar. O azul que reveste tudo isto faz lembrar o salmão que pinta as Piscinas da Outurela.
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O universo formal do teatro tem nos Auditórios da Universidade Egas Moniz, dos mesmos autores, uma aproximação muito semelhante que terá servido de palco experimental para a obra de Almada (o projectos estão separados no tempo por um ano apenas.)
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Agora quem é que se atreve a dizer que o pós-modernismo é mau e que morreu? Sei, no entanto, que estas são obras de que é fácil não gostar, especialmente quando reproduzidas assim, em imagem. Mas mesmo nesse caso (que não é, definitivamente, o meu) é impossível não reconhecer que esta atitude é muito válida e até mesmo necessária, num país como o nosso em que a arquitectura tende a reproduzir padrões de representação mais ou menos instituidos. Como Manuel Vicente dizia em entrevista há uns meses atrás, este branco que percorre o país de norte a sul não contribuiu para o enriquecimento crítico e cultural da arquitectura. Pois bem, eis o Teatro Azul.
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Falei muito em forma neste texto. Infelizmente ainda não visitei o edifício, por isso fico reduzido às imagens e aos relatos de terceiros. Mas pelo que me foi dado a perceber, esta obra tem uma riqueza espacial (feita de variações de cotas, de vãos intencionais, de vazios surpreendentes) que faz com que seja muito mais do que simplesmente o teatro azul. E, como diz Susan Sontag no seu ensaio On Style, a ideia (muito moderna) que defende a ausência de estilo estará sempre errada na medida em que essa atitude, a ausência de estilo, é um estilo em si mesmo, um código de linguagem reconhecível. Por isso pode e deve falar-se em estilo na arquitectura. Talvez seja isso que me atraia tanto neste teatro.