Tulius, toma nota:
(...) A arte resume-se em dez leis fundamentais. Primeiro, a crónica não é um género jornalístico; a crónica é um género literário. Segundo: a crónica pode partir da realidade mas, não raras vezes, a crónica cria a sua própria realidade. Terceiro: a crónica não é análise nem comentário; a crónica é confissão e hipérbole. Quarto: a crónica não pretende formar ou influenciar; a crónica deve entreter e, se possível, opinar. Quinto: a crónica não vive da especialização; a crónica vive da diversidade. Sexto: a crónica vale pelo estilo e pela substância; em caso de conflito, sacrifique-se a substância. Sétimo: a crónica não pondera opiniões contrárias à sua; a crónica pondera apenas uma opinião que seja contrária às outras. Oitavo: a crónica não está certa ou errada; a crónica, como diria Wilde, está apenas bem escrita ou mal escrita. Nono: a crónica é pessoal; a crónica é um prolongamento do ego. Décimo: a crónica deve ser tão fácil de ler como de esquecer.
João Pereira Coutinho, in Expresso 23.07.05