Saio porta fora e vejo uma carrinha da Emel de porta aberta, os funcionários lá dentro, o cidadão bloqueado cá fora, de cartão multibanco na mão, a pagar a respectiva multa, enquanto tenta apelar à simpatia dos funcionários (numa cena a fazer lembrar um jogador de futebol a protestar com o árbitro depois de ter visto o cartão amarelo) dizendo, enquanto apontava para a respectiva viatura:
- Mas não está a incomodar ninguém.
O carro, o tal que não está a incomodar ninguém, encontra-se candidamente estacionado em cima do passeio que serve de separador central da rua arborizada. É um passeio largo, generoso, como há poucos em Lisboa, o que terá levado o cidadão a considerar que mais carro menos carro também não estorva. Não está a incomodar ninguém. Este ser humano acéfalo, no fundo, apenas sofre de um mal que não é raro nos cidadãos olisiponenses, isto é, a incapacidade de observar a cidade de um outro ponto de vista que não a retaguarda de um volante, buzina incluída.