terça-feira, 21 de agosto de 2007
Um certo descontrolo
A arquitectura moderna sempre se deu bem com os ares tropicais da América do Sul. Desde os pioneiros brasileiros, passando pelo fabuloso Barragán (enfim, mexicano), até à obra fulgurante dos chilenos nossos contemporâneos (Felipe Assadi, por exemplo), o calor parece assumir-se como o elemento que faltava ao modernismo, que com o tempo foi caindo de cinzento um pouco por todo o lado (por cá o elemento que nos salvou, pela mão de Távora e Siza, foi o que Kenneth Frampton chamou de «regionalismo crítico», uma espécie de compromisso entre o manifesto e a identidade). Nos trópicos nunca se sentiu essa necessidade de auto-crítica, e nunca se interpretou o modernismo como algo hermético. Sim, está lá o rigor geométrico, a modelação, o racionalismo, o gosto pela estética industrial. Mas a porta não se fecha à cor, ao tacto, ao sexo e a um certo descontrolo. Na América do Sul, o modernismo continua a fazer sentido.