Lisboa em Agosto. Apesar do calor é onde me apetece estar. Fim de férias, interroga-se o leitor. Nem por isso. Férias, ainda. Comprámos uma ventoinha, por isso não há melhor sítio para se estar do que a Baixa de Lisboa. Estão 28 graus dentro de casa, em parte devidos a uma amnésia temporária da minha parte. Esta noite foi insuportável. A minha mulher abriu janelas, fechou janelas, tomou duches frios, delirou: eram quatro da manhã quando me perguntou sobre o hipotético preço de um ar condicionado. «Achas que precisamos de licença para isso?» «Talvez, isto agora com o Manuel Salgado vai apertar aqui na Baixa». Também eu já delirava. Só quando tentava tomar banho, já de manhã, e a água insistia em aparecer fria, me apercebi do sucedido: ontem confundi os botões da caldeira e em vez de ligar a água quente liguei o aquecimento central. Silly season é silly season. Adiante. Notícias do bairro: à frente da nossa janela, a obra que nos tem atormentado as manhãs já não é anónima. Vamos ter um hotel à porta de casa, um hotel espanhol com nome artista mal soletrado. Se calhar o Saramago tem razão. Como sabem, a invasão espanhola não é assunto que me apoquente, e recebo de braços abertos o novo vizinho. Entretanto, passaram-se coisas. Deixo uma fotografia de Manuel Vicente a aplaudir este texto da Annie Choi. Ah, não está a aplaudir o texto da Annie Choi? O quê, o Manuel Vicente é o novo presidente da Ordem dos Arquitectos? Passaram-se muitas coisas, pelos vistos. Mas, conhecendo-o como eu o conheço, quase que aposto que se não são as palmas devidas ao texto da Annie Choi, então é o sorriso. Li uns livros nas férias, mas não me apetece falar disso.