terça-feira, 21 de abril de 2009
A alegoria da caverna
Há dias, no pára-arranca da hora de ponta de Lisboa, um táxi que circulava na av. Defensores de Chaves deixou-se cair na tentação e avançou aquele par de metros que o colocou numa posição que bloqueava o trânsito da rua perpendicular à sua. Quem esperava o sinal verde na av. Elias Garcia assistiu à manobra animalesca do taxista e brindou o profissional com um merecido coro de buzinadelas mal mudou a cor do semáforo. O profissional não gostou, saiu do carro, e, esbracejando e gritando, explicou que «a culpa era da câmara» e que os restantes cidadãos deveriam apresentar as suas queixas às autoridades competentes, foda-se. Nós somos assim: aproveitamos as costas largas do «Estado» para lhe imputarmos todas as nossas javardices. O «Estado» não é só o pater familias do país inteiro, é também o bode expiatório de todos os nossos pecados. A falta de condições para se reduzir o papel do Estado em Portugal não se deve tanto à contabilidade das dependências materiais, mas sim à contabilidade das dependências psiquiátricas. O inferno são os outros; mas sem o inferno não há paraíso e nós queremos continuar a acreditar no paraíso.