quarta-feira, 15 de abril de 2009
O alcaide subterrâneo
Cruzei-me hoje de manhã com o nosso alcaide no Metro. Vinha sozinho, imperturbado, passo lento, mais um na multidão. A imagem é bonita: como bem observou a minha mulher, encontrar presidentes de câmara no Metro dá a sensação de país nórdico. Porquê? Defendo que de entre os muitos indicadores que podem ser usados para medir o grau de desenvolvimento de um país, a taxa de utilização dos transportes públicos por detendores de cargos electivos pode muito bem ser o mais eficaz: não só diz bem da rede de transportes públicos como revela um ambiente social que não intimida quem tem de responder nas urnas. «Andar de transportes» é um estigma social que o provincianismo português ainda não expurgou; ter um carro com motorista para nos levar à mercearia e às reuniões ainda é um privilégio que nos aproxima de São Paulo ou do Cairo e nos afasta de Londres ou Estocolmo. Quando um ocupante de um cargo público é visto no Metro ou no autocarro as pessoas notam. António Costa sabe isso e o seu gesto será tudo menos inocente, mas ainda assim é uma acção de campanha bem feita.