quarta-feira, 1 de abril de 2009
No Pingo-Doce (II)
À minha frente está um casal novo, loiro, com «erasmus» escrito na legenda. Falam uma língua que eu não entendo e que deduzo ser escandinava (ou próxima). Mesmo se a cor da pele e dos olhos não os tivesse denunciado, a indumentária teria dado conta do recado: ele vestia calças de ganga e chinelos de praia. A dada altura entra um tipo grande com dois brincos nas orelhas que o meu estudante escandinavo imediatamente identifica «Lsadskn dfri Daniel dfgij hostel» (ainda falava só para a namorada, pelo que foi isto que eu decifrei). «Daniel!», acenou, «this is Daniel from my hostel» (a presença de uma segunda nacionalidade forçou o inglês, para gáudio do blogger voyeur imediatamente atrás deles). «This is my girlfriend, she just landed today, we're going do the Algarve on friday». O Daniel, acusando o toque da presença da namorada do escandinavo, bateu no ombro dele, disse-lhe que estava com bom aspecto, e que eles não deveriam ir para Faro mas sim Tavira, que era mais bonito, «really nice». A conversa de circunstância permitiu mais dois ou três comentários sobre o «portuguese wine» e sobre o modo como se vai de Faro para Tavira. Toda linguagem corporal do Daniel denunciava uma auto-confiança contagiante e fazia dele um embaixador do país perante os nórdicos. Percebi que isto é uma das coisas de que mais gosto nos portugueses: por muito frágil que seja o nosso patriotismo, ele nunca se deixa ficar mal perante uma «namorada escandinava». E enquanto assim for, seremos viáveis.