A sequência de estações de Metro que percorremos quotidianamente sempre à mesma hora força a criação de um portfolio de caras que passam a ser, com o tempo, facilmente identificáveis. E, dia após dia, cedemos à tentação voyerística e vamos inventando biografias juntando peça a peça o puzzle das vidas dos outros, daqueles outros, peças muito livremente inspiradas na realidade. No entanto não exteriorizamos nenhum sinal de reconhecimento da sua existência; os estranhos não se falam, não trocam olhares cúmplices, ninguém dá a primeira martelada no muro da intimidade e da privacidade. Ignoramo-los, para todos os efeitos, mas secretamente alimentamos uma familiaridade inexistente alicerçada no resultado de minuciosas iterações especulativas surpreendentemente conclusivas: aquelas pessoas estão todas cuidadosamente catalogadas dentro do sistema de padrões que os nossos preconceitos criaram. Isso reconforta-nos.
Mas depois vêm as casual fridays e o edifício desaba em segundos.