quinta-feira, 9 de abril de 2009
Páscoa
Tendo o Natal sido dado como assunto arrumado, é de esperar que o próximo ataque laico seja dirigido à Páscoa, um feriado que tem resistido estoicamente a batalhões inteiros de coelhinhos de chocolate. A vulgarização entre os gentios da expressão «boa páscoa» (aqui em mínuscula) ameaça o armagedão: não faltará muito para que se comece a denunciar a «monopolização cristã» da «páscoa» (o Judaísmo ficará de fora desta história por manifesta ignorância dos acusadores), um «feriado» que «já faz parte» da definição cultural de um povo que se quer laico e não discriminatório. A «páscoa», que como toda a gente sabe significa «fim-de-semana prolongado numa altura em que se está a sair do Inverno e ainda não é bem Verão mas que já dá para ir para a praia», parece ser um lame duck. Um alvo fácil. Um docinho no horizonte das celebrações do centenário da República. Eu vou cá estar para ver, porque vai valer a pena. Dar o desconto e entrar na cantilena natalícia, na celebração do nascimento de uma criança, é uma coisa; já tratar da apropriação de uma ressurreição me parece um osso mais duro de roer e matéria para muitos contorcionismos semânticos. Porque a Páscoa não é da «família»; é do homem que mataram à Sexta-feira e que voltou ao Domingo para contar. Que volta aos Domingos para contar.