O Pedro Mexia foi particularmente eficaz ontem no Governo Sombra a colocar alguns pontos de interrogação na euforia do João Miguel Tavares. O argumento era de peso: o século XX ensinou-nos a moderar as reacções emocionais à política (o século XX e toda a carreira política de Santana, acrescento). Não sou imune nem totalmente descrente em relação ao poder do carisma político, mas se fizermos o esforço (porque é preciso algum) de olhar para Obama para além da emoção é evidente que sobram mais dúvidas do que convicções. O Vasco Barreto já tentou resolver a questão dizendo que «precisamos da dúvida para continuar a viver», que é uma frase muito interessante na sua dimensão catequética, mas que pertence mais às estantes que não dizem «Política» no cabeçalho. Nós, os não deslumbrados, servimos para isto: para alertar para o facto de que do outro lado estava uma carreira política sólida e que não traria muitas surpresas (infelizmente atolada no lodo em que se tornou o partido republicano), e que a juventude de Obama - não tanto a sua «inexperiência» - é um factor com o qual ele terá de lidar. Eu estou um bocado como estava o Eduardo Prado Coelho em relação à fé: quero acreditar, mas julgo que não me foi concedida a graça.
Aparte disto tudo, está a celebração - incontestada - da eleição do primeiro afro-americano para a presidência, só por si uma prova de que ainda podemos confiar nos EUA para nos continuar a ensinar esta coisa que é a democracia.