«(...) Em nome da pureza das paredes cegas — parece que é assim que se diz —, nenhum dístico identifica a biblioteca. Siza Vieira também desenha mesas, candeeiros, papeleiras, etc., mas, neste caso, não achou curial identificar o edifício. Era assim em Setembro, quando a biblioteca levava nove meses de uso. E como é que o meteco sabe que aquilo é uma biblioteca? Ou, mais prosaicamente, como encontra a entrada principal? (...)»
Alian de Botton fala disto no seu The Architecture of Happiness, e eu acho que muito bem: um dos estigmas que a arquitectura moderna inflingiu sobre os edifícios foi o facto de tudo se parecer com tudo e consequentemente com nada. Mais uma vez, e é sempre bom citá-lo ocasionalmente, quem resolveu este problema foi Manuel Vicente, postulando que um edifício que queira servir para uma coisa servirá para muitas outras - antigos mosteiros transformados em hotéis, antigos conventos transformados em museus, antigas igrejas transformadas em bibliotecas - e um edifício que queira servir para muitas coisas não servirá para nada. Também é por essas e por outras que os edifícios modernos costumam ver a dinamite mais rapidamente que os outros. Em Viana do Castelo, Siza falhou redondamente traindo tudo aquilo a que sempre se propôs ao desenhar um edifício genérico, que não inspira nem diz nada. Houve uma ideia e parou aí. Tragam a dinamite.