sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Nobel, ai o Nobel

A questão da «maldição do Nobel» é um assunto curioso (que José Mário Silva tratou numa das últimas edições da LER) e são muitos os exemplos dos escritores a quem o Nobel estrangulou a veia criativa. Um caso clássico de performance anxiety: a aclamação pública torna demasiado presentes as expectativas do meio e atropela o artista com um camião de inseguranças e passados que o enclausura indeterminadamente no recobro de onde nunca chega a sair. Deve ser lixado. Ora, na arquitectura, e este é um pensamento que flana pelo meu hipocampo há uns dias, o fenómeno parece ser o inverso, conclusão que posso ilustrar recorrendo ao Saramago da arquitectura portuguesa: o Pritzker em 1992 deu a Siza uma pujança criativa incontestável. A explicação será talvez simples: o arquitecto é um artista que luta contra uma série de obstáculos (orçamentos, engenheiros, a gravidade) que parecem tornar-se mais suaves após a inclusão da palavra Pritzker no currículo. É uma luta, nós contra eles, e quantas mais armas possuirmos melhor. Já no caso dos escritores, a luta é nós contra nós - o anjinho e o diabinho - e parece que o Nobel vai sempre parar às mãos do diabinho. Talvez do que os escritores precisem é de editores mais chatos. Um inimigo exterior.