quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Striptease (2)
É uma das expressões com mais graça da língua portuguesa: «despir-se de preconceitos». «Ele despiu-se de preconceitos e (...)». Há quem promova muito este tipo de atitude. Eu assumo a posição contrária: acho que devemos despirmo-nos de preconceitos na exacta medida em que nos despimos da roupa, escolhendo muito bem as ocasiões e as companhias. A roupa é necessária, como sabemos, essencialmente por motivos higienico-estéticos, e tem side-effects muito úteis (aquela coisa do clima). Os preconceitos, por sua vez, são necessários para não sermos obrigados a um reset cognitivo cada vez que somos interpelados por alguma coisa. Um conjunto equilibrado de preconceitos é uma ferramenta muito útil. Sem preconceitos, ficamos mais ou menos selvagens. Despirmo-nos de preconceitos é uma coisa ainda mais rousseauiana do que despirmo-nos das roupas.