quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Os bons costumes
Uma avaria técnica que não é da responsabilidade do Metropolitano de Lisboa - de quem será?, de quem será? - está a impedir a circulação na linha amarela, e como eu não confio nada naquele «retomaremos assim que possível» decidi subir a pé do Marquês ao Campo Pequeno (um trajecto todo branco de inclinações até 5%). Resultado: duas distensões musculares, uma rotura dos ligamentos no tornozelo direito, desidratação, cãibras várias, e, graças ao clima ameno de Lisboa, princípios de hipotermia. Isto tudo até ao Saldanha (para quem estiver interessado, disponibilizarei através do email a lista completa, formato .pdf). O que me leva directamente ao segundo assunto do presente post: a proposta de regulamento do meu condomínio. Eu sou a favor de regulamentos e mais regulamentos, acho importante sermos regulados, mas há coisas que alto lá e pára o baile: não é que um dos artigos estipula a proibição dos condóminos de «destinar à fracção quaisquer usos ofensivos dos bons costumes», e outro diz que somos obrigados a «manter a respectiva fracção e seu equipamento em bom estado de conservação, arranjo e asseio»? Que esperem que eu limpe o pó às pratas duas vezes ao mês, tudo bem, mas que me queiram impedir de violar «os bons costumes» já me parece demasiado atentatório a uma data de direitos que me devem assistir com certeza. Por falar em violação dos bons costumes, não vi o jogo do Sporting de ontem, mas já consultei online os videos dos golos e quero dizer que estou extremamente perturbado: estou extremamente perturbado que (1) o Messi não ganhe o título de melhor jogador do planeta para aquela coisa - toda ela violadora dos bons costumes - que é o Cristiano Ronaldo; estou extremamente perturbado (2) que tenha sido o Miguel Veloso a marcar aquele golo e o Caneira a marcar aqueloutro - o Miguel Veloso é todo ele também um tratado à violação dos bons costumes, enquanto que o Caneira me parece um homem honrado e digno e sério; e estou extremamente perturbado (3) com o Polga em geral. Dito isto, que não é pouco, partilho com a assistência o encanto que subiu por mim acima ontem ao ouvir uma vizinha espanhola, já uma cidadã sénior e residente nas Canárias, confessar que há muitos anos prometera a ela mesma comprar uma casa em Lisboa - uma epifania que parece ter-lhe acontecido sentada no Rossio - e que «agora já está!», com exclamação e tudo. É tudo, até a uma próxima oportunidade, com amizade.