«Marx was wrong: The opiate of the masses isn't religion, but spectator sports. What else explains the astounding fact that millions of seemingly intelligent human beings feel that the athletic exertions of total strangers are somehow consequential for themselves? The real question we should be asking during the madness surrounding this month's collegiate basketball championship season is not who will win, but why anyone cares. (...)»
E daqui David P. Barash arranca para a demolição do edifício onde está sediada a paixão pelo desporto colectivo. A táctica é simples e passa pela tentativa de compreender o fã, a claque, o ser humano. E, como sempre acontece quando um académico tenta compreender o ser humano, o argumentário passa pela observação do mundo animal e respectivas extrapolações antropomórficas. O resultado é a redução do fanático desportivo a um estágio semi-primitivo de desenvolvimento humano, conclusão que qualquer pessoa que já assistiu a um jogo da primeira liga ao vivo terá a maior das prudências em refutar. Barash relembra o óbvio: não há nenhum motivo para o clubismo desportivo que se alicerce no domínio da racionalidade; porém, Barash esquece o óbvio: nunca ninguém reivindicou para o clubismo desportivo a mais pequena das doses de racionalidade. Todas as armas que Barash vai buscar para o seu servicinho revelam-se, não sem surpresa, bastante eficazes na destruição de edifícios vizinhos. Se o desporto é uma activação da violência nas massas através da invocação de valores tribais mais ou menos artificiais, então o mesmo se pode dizer do nacionalismo, um veículo para a superação individual que passa pela exaltação de uma entidade que parece ter sido criada apenas para ser exaltada. O retrato que Barash faz dos fãs poderá ter nascido da sua «incompreensão» face ao fenómeno, mas algumas das suas afirmações são especialmente cruéis, como lembrar que o desportista quase sempre se revela um escroque fora de campo, ou que a ansiedade pelas vitórias da nossa equipa pode não passar de uma máscara para os insucessos e frustrações do nosso percurso individual. Esta última é especialmente demolidora e verdadeira: lembro-me de há uns anos no velho terceiro anel ver um homem que, desolado perante a derrota, só pensava na «cara com que ia aparecer amanhã no café». A verdade é que o clubismo é algo que nasce sem muita escolha numa idade inocente e que temos de suportar para o resto da vida, vergados à evidência de que nada daquilo faz muito sentido. Ou seja, e esta é uma das conclusões principais do texto, o fã é uma criança a quem está vedado o direito de crescer.
A tese é útil especialmente naqueles precisos momentos em que a devoção clubística nos falha, como aconteceu, espero, a qualquer benfiquista no dia de ontem. O cenário de ser obrigado a festejar a Carlsberg Cup já era suficientemente desolador a priori, mas ter sido obrigado a fazê-lo naquelas circunstâncias foi especialmente revelador. Ficar inscrito na história que um erro de um árbitro foi responsável pela conquista de um troféu patético não devia confortar o fã na sua luta contra a depressão doméstica; devia contribuir para ela. Pode não haver vitórias morais, mas há com certeza vitórias imorais e desprovidas de qualquer capacidade para engrandecer o pobre e insignificante adepto. Valha-nos o dr. Barash.