Na cidade tradicional é «a minha rua». Na cidade moderna é «o meu prédio». Apesar de serem coisas diferente, ruas e prédios, neste caso desempenham um papel semelhante, o da pertença a um sítio. Pode falar-se em bairro também, mas o bairro não chega para desenhar todos os contornos do território de pertença; por vezes o bairro é demasiado grande, e dentro do bairro há que distinguir ruas ou prédios. Repare-se que são mutuamente exclusivos: quando se fala de rua não se pode falar de prédio e vice-versa.
Na rua todos os prédios de alinham num sentido colectivo para dar forma a uma entidade mais importante. Não se distinguem, não são únicos. Geralmente, quase sempre, na rua os edifícios respeitam o vizinho, ou seja, copiam-lhe a métrica, a proporção, a côr, os materiais. Tudo, lembre-se, porque é a rua que assim o obriga.
Quando se fala no prédio a primeira coisa a notar é que não se fala no edifício. Não é só a palavra que é mais comunicativa (menos sílabas, sílaba tónica aberta, etc.), mas é a subtil diferença de significado: o edifício é a coisa construída, só, é o betão e a pedra, a caixilharia e os tubos de esgoto; o prédio, por sua vez, é o edifício habitado, são as relações de vizinhança entre pisos e apartamentos. O prédio define logo um ambiente, tal como a rua.
Eu prefiro a rua. Nunca tive um prédio, é certo, mas ainda assim a rua continua a ser para mim a unidade urbana por excelência. É por isso que, por exemplo, prefiro Alvalade aos Olivais.