«Eu, que toda a vida me dei com «jovens católicos praticantes» (portugueses), não conheço cinco que sigam «a doutrina da Igreja em matéria sexual». Não é cinco por cento: é mesmo cinco.»
Pedro Mexia
Eu, tal como o Pedro Mexia, sempre me dei com «jovens católicos praticantes», e posso afirmar que conheço cinco que seguem «a doutrina da Igreja em matéria sexual». E admito que sejam mais, talvez chegando mesmo à casa das dezenas. Mas neste caso interessam-me os outros, a maioria. E uma simples observação leva a concluir que não é possível seguir a doutrina da Igreja. No limite, não é. Mas fiquemos por uma interpretação mais pragmática da doutrina: a não existência de sexo fora do casamento. Porque há tão poucos a respeitar esta opção? E, talvez mais pertinente, porque há tão poucos a dar importância a essa opção? Aqueles que se estão marimbando para o apelo à abstinência não parecem estar muito preocupados com esse pecado. Nem por um segundo deixam que isso interfira com a sua Fé (com maiúscula). Sei que não devo tentar extrapolar aquilo que penso: não ligo patavina às questões morais do cristianismo (penitência, arrependimento, sacrifício, etc). Sempre me pareceu que esta busca da santidade ou da pureza de espírito baseada na pureza da carne não tem nenhuma consequência na vida em sociedade. Aliás, é preocupante haver tanta gente que o apregoa mas não o cumpre. Mas voltando a centrar a discussão o que é evidente é que o problema não se põe. Ao nível da moral individual a questão da sexualidade não faz a menor mossa nos jovens. Mas curioso é verificar a sua reacção perante a evidência: o silêncio. Estou convicto que a Igreja, a sua estrutura oficial, não faz a menor ideia do verdadeiro estado das coisas. Porque é raro haver essa discussão. Parece haver ainda um tabu. Se apenas se estivesse a considerar o comportamento íntimo de cada um não perdia dois segundos a pensar nisto. Mas o problema atinge maiores proporções quando interfere com o impacto deste tipo de pensamento no mundo. Não é possível que, baseado na conduta de 2 ou 3% dos católicos (estou a ser generoso), a Igreja continue a condenar o uso do preservativo, por exemplo. Repare-se: esta posição não teria falhas se toda a gente seguisse a doutrina da Igreja em matéria sexual. Mais grave é ainda quando, perante a realidade, o puritanismo oficial radicaliza posições e assume uma atitude de aldeia do Asterix. Daí até à condenação geral dos pecadores vai um passo. A decadência instala-se, artificialmente. Porque há jovens que fornicam sem contrato a civilização está condenada. Não são assim tão poucos os que pensam desta maneira. E depois, claro, há sempre os short-sighted do costume que aproveitam para juntar tudo no mesmo saco: sexo pré-marital, adultério, aborto, homossexualidade, pedofilia (João César das Neves, por exemplo). São eles que se colocam na caverna, imaginando nas sombras projectadas os pecados que incluem nos seus sermões. Bastava-lhes sair da toca, bastava-lhes sair da toca...