Quem o diz é Souto Moura, membro do júri do concurso que atribuiu a vitória à OMA, em entrevista ao Público. Porquê, perguntamos, se a Casa da Música parece estar envolvida nesse manto de futuro? Responde o arquitecto (que diz gostar da obra):
É uma obra de excepção (...) é um pós-modernismo: nós ainda não resolvemos os problemas que ele critica. Koolhaas constrói o não-espaço, faz uma massa e depois tira coisas. Constrói pela negativa. No fundo, é uma desconstrução. (...) É uma certa maneira de ver a arquitectura: desconstruir, tem a ver com Derrida, essas coisas todas. Acho que Portugal durante muitos anos vai precisar de construir - precisamos da gramática da construção e não da desconstrução. A desconstrução é um luxo das sociedades pós-industriais.
Retenho esta ideia chave de que (a) desconstrução é um luxo das sociedades pós-industriais.
Tentei dizer o mesmo anteriormente:
Talvez por isso o desconstrutivismo tenha sido a coisa mais coerente e interessante que o pós-modernismo tenha gerado. Para quem estuda arquitectura e conhece minimamente as suas premissas e códigos, o desconstrutivismo é sempre interessante. (...) Uma obra desconstrutivista é exageradamente elitista. É snob. Só é acessível a alguns. (...) Por isso o desconstrutivismo não resolve nada, não acrescenta nada, não faz a arquitectura andar para a frente. São obras de orçamento elevado.
Serve isto para dizer que a arquitectura é, na sua essência, a arte de resolver problemas. A criatividade é elogiada pela sua capacidade de descobrir soluções. Na mesma entrevista Souto Moura revela: «Não tenho vergonha nenhuma de dizer que andei aflito sempre a fazer o estádio.» A aflição não vem da pressão de se gerar algo de extraordinário. A aflição nasce das dificuldades em resolver questões práticas, geralmente bastante complexas. Que tudo pareça simples e claro como resultado final é prova da mestria do projectista. O desconstrutivismo, por não ter ambições de resolver, não tem interesse em clarificar. Serve para as excepções, como a Casa da Música, mas o futuro da arquitectura não é, de facto, por aí.