Coincidência ou não, João Pereira Coutinho também se atira aos arquitectos no seu artigo do último número da revista Atlântico (não me esqueci da Maria Filomena, estou só a ganhar fôlego). O seu pretexto foi a polémica sobre o plano de Siza para Madrid, o tal que abate não sei quantas árvores e amarrou uma baronesa a um tronco. Foi este, como poderia ser outro qualquer. Sempre que há um plano ou projecto arquitectónico polémico, logo cai a intelligentsia em cima dos arquitectos, e desse horror que é a arquitectura moderna. Pois bem, Pereira Coutinho ataca precisamente o Moderno na arquitectura. Concordo com alguns pontos (a «arrogância de classe» é uma evidência), e com outros, apesar de concordar com a premissa, discordo frontalmente com as ilações. Por exemplo:
(...) Podemos ler, ou não ler, Joyce. Podemos evitar, ou não evitar, Eliot, ou Schoenberg, ou Matisse. A nossa escolha é a nossa escolha: uma questão de gosto, às vezes intransmissível. Mas a arquitectura é, por definição, inescapável: ela impões-se indiferentemente como realidade colectiva. (...)
Isto é suposto ser uma crítica à «arquitectura», aos arquitectos, à «natureza autoritária» da coisa. Eu vejo estas mesmas linhas como uma sólida defesa dos objectivos da revogação do 73/73, e da inerente obrigatoriedade de serem arquitectos a projectar obras de arquitectura. Pereira Coutinho acha o contrário: porque a arquitectura é «inescapável», ela não pode estar limitada à «omnisciência estética» (bela expressão) dos arquitectos, mas sim aberta, democraticamente, a todas as «intransmissíveis» sensibilidades. Para além da má-lingua, não se percebe bem onde quer João Pereira Coutinho chegar.