quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Nozes a quem não tem dentes
Sempre que preciso de ir ou sou chamado aos correios, invade-me uma sensação de elitismo que nem vos passa. Ou, para sermos mais correctos, uma sensação de fortuna abençoada, de que sou um dos privilegiados. Isto porque a minha estação é no Terreiro do Paço - é mesmo, não me venham com tretas republicanas, o nome da estão é oficialmente «Terreiro do Paço». Para quem não sabe, o Terreiro do Paço é a praça mais bonita do mundo, mesmo agora que está sujeita a inúmeras agressões. Não percebo como é que aquela gente (os commuters) atravessa a praça apressadamente, como se estivessem na estação do Campo Grande ou no Interface da Pontinha. Vejo-os em passo acelerado, logo pela manhã, ansiosos por chegar à paragem de autocarro ou à estação de Metro. Não percebo como não param todos junto a D. José I num embasbacamento colectivo, sobretudo nestes dias de sol ameno, e agradecem a Deus (ou a quem quiserem, embora agradecer a Deus sempre é mais imediato) a benção que lhes foi concedida que é terem o Terreiro do Paço como parte do seu itinerário diário. Eu sei que agradeço. Como agradeço a visita que fiz há uns tempos a um gabinete do Ministério da Justiça, no primeiro andar com vista para a praça, janela dupla num isolamento sonoro perfeito. Aí percebi o atraso da justiça em Portugal: se eu tivesse aquela vista também não trabalhava, e o meu ímpeto reformista estaria bem mais apaziguado.