quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Bastante menos evidente

O Ricardo Gross é a segunda pessoa, no intervalo de tempo de uma semana (aprendi esta com a minha professora de Física do 12º ano do Pedro Nunes: «espaço de tempo» não só é uma expressão de duvidosos méritos estéticos como é também uma aberração científica), a elogiar Into the Wild, com o respectivo acto de contrição por tê-lo menosprezado no cinema (sendo a outra pessoa João Pereira Coutinho, no Expresso.) Confesso que isto me atarantou um pedacito (esta aprendi com a minha professora de matemática do 9º ano do Pedro Nunes, que dizia sempre «um pedacito» quando tinha a oportunidade) porque também eu afastei para o lado a obra de Sean Penn e isto é gente cuja opinião cinematográfica aprendi a respeitar. Mas o que me traz verdadeiramente aqui hoje não é Into the Wild mas sim outra adaptação: Atonement. Quando Atonement passou no cinema não me apresentei à chamada porque o trailer não me convenceu (filme de época, aquele canastrão do Último Rei das Escócia, etc, etc) e porque queria, enfim, «ler o livro». Entretanto a vontade de «ler o livro» passou-me, não sei bem porquê, lá aluguei o filme e trouxe a cassete para casa (esta aprendi com a minha mãe: chama sempre «cassetes» aos DVDs). Não só achei o filme, vá lá, bom, como cresceu em mim a suspeita de que Atonement poderia muito bem ser um opus maior de McEwan, como já tinha lido e ouvido a pessoas de bem, embora algo incrédulo. Esta minha sensação de desconforto por provavelmente ter perdido o estado de virgindade perante uma obra de McEwan adensou-se com o facto de o Rogério Casanova ter dito ontem que a «mestria narrativa» de Saturday é «bastante menos evidente do que em Atonement». E agora o que é que eu faço?