Talvez não haja melhor do que um encontro fugaz com um grupo de adolescentes numa casa de banho pública (e se esta não é a pior frase inicial de sempre de um post então eu não sei qual é) para nos preparar para a visita guiada à exposição «A Evolução de Darwin» na Gulbenkian.
Todas as hipotéticas resistências à ideia da «evolução» das «espécies» são elegantemente convidadas a sair de cena perante a comparação entre a nossa pessoa e um «adolescente». Sim, as espécies (e os espécimes) evoluem e nem é preciso esperar uma geração para que o nosso espírito se inquiete e maravilhe com tão acelerada viagem: não é nada difícil de acreditar que estamos tão ou mais próximos de um Homo rhodesiensis do que de um estudante da EB 2-3 D. Francisco Manuel de Melo. Cá fora, quem não tinha ido à casa de banho inquietava-se e terá exteriorizado essa inquietação ao cientista: «a teoria da evolução das espécies por selecção natural é perfeitamente compatível com Deus», dizia o cientista, desde que aceitemos «que não precisamos de Deus para explicar» a natureza. Este é um dos problemas ontológicos dos cientistas: acham sempre que estamos neste mundo para tentar «explicar» as coisas. Não estamos, não estamos nós, nem está Deus: a lição que se retira da dinamitação dos princípios religiosos que até Darwin monopolizaram o conhecimento científico diz mais sobre a nossa relação com Deus do que da relação de Deus com o mundo - nós não criámos Deus, apenas o interpretamos o melhor que podemos, ou seja, mal. Deus dá-nos é muitas abébias, é o que é.
Mas mesmo para aqueles que não foram à casa de banho Darwin era o herói do dia e a exposição da Gulbenkian revelou-se um regalo para os sentidos. Por entre cobras e macacos e uns bichos divertidos que ora cavam oram contemplam o jardim de Ribeiro Telles e cujo nome agora me escapa, aprendemos que o pai Darwin era, entre outras coisas, um agiota, que Darwin se casou porque «as mulheres fazem melhor companhia do que os cães», e que os adolescentes não sabem comportar-se num museu. Ou melhor, que os adolescentes não sabem comportar-se. Ou melhor, que os adolescentes não sabem. Ou melhor, que os adolescentes não, ponto.
Então e a mosca da fruta, não falas da mosca da fruta? Ai de mim não falar na mosca da fruta, estou ofendido por terem colocado a hipótese de eu não falar na mosca da fruta. A dada altura alguém se dedicou ao estudo da Rhagoletis pomonella - isto é difícil de assimilar mas puramente verdade - e catalogou uma série de mutações que observou nalguns exemplares da espécie, dando origem a uma hipótese académica que defendia poder ser a mutação o catalizador da evolução e não a selecção natural. O cientista citou um russo para explicar a resolução do problema evolutivo que daqui nascera. O russo integrou as mutações na grande teoria evolutiva da selecção natural com uma simplicidade desarmante: as mutações que são benéficas para a espécie acabam por ser integradas nela, por oposição às mutações que são prejudiciais à espécie, que acabam por ser irradicadas do futuro evolutivo da espécie. Apesar da beleza teórica do postulado, o russo estava errado: se as mutações prejudiciais são irradicadas pelo mecanismo de selecção natural, como se explica a espantosa sobrevivência da adolescência? Há coisas que o russo não explica.
Enfim, ganhei um pin, o dia está ganho.