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Tenho um fascínio natural pela vida privada dos intelectuais, de que não me orgulho, não tanto por essa dimensão «intelectual» do conceito mas mais pela dimensão «vida privada». A publicação da tradução portuguesa de Intellectuals, de Paul Johnson, parecia ser o livro indicado para mim, mas as mixed reviews que recebeu deixaram-me céptico: de um lado está Rogério Casanova, que escreveu dois textos, um no blogue outro no Expresso, onde dizia que o livro era uma merda; do outro, estão aqueles, quase todos, que a consideraram «uma obra fundamental». O desiquilíbrio da distribuição do número de opiniões favoráveis e desvaforáveis traçou um caminho claro. Eu sou fraco e fico sempre do lado dos mais fortes: deixei o livro na estante da loja e fui à procura da felicidade para outro lado. Felizmente David Reiff veio em meu auxílio e decidiu-se a publicar os diários da mãe que, olha, foi uma das «maiores intelectuais» do século XX e, num pormenor que ajuda sempre as biografias e os diários, bissexual. Quebrando a regra de ouro que estabelece que os prognósticos só devem ser feitos no fim do jogo, confesso que a minha expectativa é grande: acho mesmo que isto ainda deve ser mais sumarento que o Bilhete de Identidade de Maria Filomena Mónica, até porque a rebeldia de Maria Filomena Mónica parou à porta da orientação sexual, o que é uma pena. Ou seja, ficarei extremamente desiludido se Susan Sontag também só mencionar muito de raspão o Vasco Pulido Valente.