sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
O (e)leitor
Numa discussão na faculdade de direito de Heidelberg retratada em O Leitor (atenção, spoiler) sobre o julgamento em curso de antigos oficiais nazis, o professor (o sempre recomendável Bruno Ganz) explica o mundo desta maneira: «As pessoas julgam que a sociedade se rege pela moral, mas isso não é verdade; nós regemo-nos pela lei, e por isso não interessa saber se as coisas foram certas ou erradas, mas sim se foram legais». E adianta: «segundo as leis de então». Para se saber se alguma coisa é legal ou não, é preciso prová-lo. Nunca saberemos o que Sócrates fez ou não fez na escritura de compra da sua casa. Só sabemos que o fez já enquanto Ministro-Adjunto e suspeitamos que toda a gente o fazia na altura. O quê? Não sabemos, não saberemos, seria injusto estar a supôr. Em O Leitor, seis mulheres estavam sob julgamento. Seis de entre as milhares, milhões de pessoas que fizeram na altura o que toda a gente fazia, o que toda a gente sabia. Cinco mentiram como puderam e incriminaram uma outra. Levaram quatro anos e meio de prisão. A sexta, analfabeta, directa, contou o que se tinha passado. Não teve a mesma sorte.