A primeira coisa que há a fazer é abater a tiro qualquer pessoa que alegue que esta foi mais uma final «mítica» e «hercúlea» e «estratosférica» e coisas dessas. Não foi, foi um mau jogo de ténis e há várias razões para explicar esse facto e todas gravitam à volta de uma ideia central: Federer esteve sozinho em campo nesta noite. Vão lá ver as estatísticas: mais winners, mais pontos, mais ases, mais duplas faltas, mais erros não forçados, mais tudo. Nadal, que não é assim tão mau, estava esgotado do jogo de ontem e percebeu que só tinha uma coisa a fazer: esperar. Ele que tem sempre uma vantagem sobre Federer, e não falo dos bícepes: mesmo como número um do mundo nunca entra em campo como favorito e isto começa a pesar sobre Federer. Este jogo, que se disputou entre Federer e Federer e que teve em Rafael Nadal o espectador com o melhor lugar, foi um festival de desperdício de bolas, com o suíço a explorar todas as maneiras possíveis de perder pontos. E se o ténis é um desporto onde é tão necessário ganhar pontos como não os perder (e desta nem Bernardo Mota foi capaz), hoje quer Federer, quer Nadal, entraram em campo para não os perder. Nadal pelas razões que já expliquei; Federer porque não é parvo e sabe que está muito longe do jogador que já foi e porque Pete Sampras esteve demasiado omnipresente. Federer jogou contra muita coisa e nenhuma delas foi Nadal: Sampras, a história, ele próprio, os cangurus e aquela namorada ou noiva ou lá o que é aquilo que ele tem. Foi, repito, um mau jogo, estou ligeiramente desapontado por não ter ficado a assistir pela madrugada fora ao empolgante Benfica - Paços de Ferreira de 1993 por causa do despertador de hoje. A vida não é fácil e por isso os «domingos» são um conceito em vias de extinção: vou tomar banho, meter uma bucha e vou trabalhar, para esquecer isto.
(Federer acaba de sair em lágrimas; em lágrimas. Os suíços também choram. Isto, como disse, não é nada fácil e parece que o Nadal também vai chorar. Desde que Sampaio dissolveu o Santana que não via tantas lágrimas. Apesar de tudo, ele vai lá chegar, ao décimo quarto, é uma questão de darmos tempo ao tempo e esperar por uma lesão do Nadal que é, como diz Bernardo Mota, «biomecanicamente» qualquer coisa, ou lá o que é.)