Caros amigos,
Hesitei muito antes de escrever este texto. Se o escrevo é porque reconheço que a única maneira de fazer com que os malefícios que essa hesitação me traz desapareçam é, de uma vez por todas, dar o passo em frente. Comecei a escrever na blogosfera no longínquo mês de julho de 2003. Aliás, a blogosfera de hoje muito pouco tem a ver com essa blogosfera de então. Lembro-me do prazer que foi ver as primeiras linhas nascerem para a world wide web. As primeiras reacções, os primeiros links, os primeiros mails. Enfim, toda a adrenalida da primeira vez. Desde então, tenho escrito sobre muita coisa. A quantidade de lixo que se foi acumulando é boa prova disso. Muitas horas perdidas diante do ecrã, a debitar ideias com pouco mérito. Foi desgastante, mas recompensador em muitos momentos. Nos últimos tempos a balança tem-se desiquilibrado, e tem-me faltado energia e motivação para alimentar o tamagotchi. Sinto-me, de certo modo, gasto e vencido, com pouca coisa de nova para dar. Leio menos blogues do que então, e os que leio com maior prazer têm, nos últimos tempos, desaparecido aos poucos. Ainda assim, parece-me algo despropositado anunciar o fim de um blogue. Se a espontaneidade e o carácter informal sempre foram aclamados como virtudes da blogosfera, parece-me fazer pouco sentido decretar que o blogue chegou ao fim. Menos sentido faz que se queira acabar com um blogue. Há muitas maneiras de deixar de escrever na internet. Uma delas é deixar de escrever, simplesmente. Deixar de abrir a página do blogger, deixar de publicar. Que a coisa se arraste, como uma ruína que ninguém chegou a destruir, um vestígio de algo que já passou por melhores dias. Não quero com isto dizer que vou deixar de escrever. Aliás, nem garanto que passe a escrever menos. O que aqui faço é um acto de honestidade, um agradecimento a quem me lê, vá lá, regularmente. Não estranhem se a actividade por estes lados adquirir um ritmo esquizofrénico. Será um blogue menos coerente (se é que o foi algum dia), mais estranho. No entanto saibam que são todos bem-vindos, sempre que quiserem. Por isso, é sem dramatismos que declaro que este blogue não acaba aqui.