segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Sex is a risky game, because if you're not careful, it will cut you wide open
Confesso que vi o Kinsey estabelecendo paralelismos constantes com alguma realidade católica em Portugal (não conheço outra, aceito que seja semelhante). A brutalidade de um acto que pode ser tratado como puramente animal, fisiológico, anatómico (mas que corre sérios perigos se levado à letra, como mostra o filme), face à inadequação das regras sociais herdadas silenciosamente que confortavelmente vão servindo para artificializar a relação entre o público e o privado. O filme explora a fragilidade da chamada normalidade no que ao sexo diz respeito, expondo certos comportamentos sociais como absurdos e patéticos (então como agora), mas também o perigo que se corre quando se tenta tornar o sexo um mero acto entre mamíferos. Provavelmente a virtude estará algures entre o salão paroquial e a gay parade, entre a contenção daquilo que é permitido na esfera pública e a perversão inevitável do íntimo. Para um católico que vive na era Ratzinger (chiça que eu não consigo escrever um post sobre o assunto sem cair na tentação de invocar o santo nome) e que percebe que um dos grandes equívocos do Vaticano é essa tentativa de uniformizar comportamentos à luz de uma moral pública, o filme é, acima de tudo, divertido e esclarecedor. Mas fica sempre a sensação que é claramente benéfico para todos que muitas coisas não saiam do campo do privado. Só é preciso é saber dosear essa relação com muito bom-senso e, concomitantemente (só deus sabe o quanto desejava escrever um post com esta palavra), manter a cabecinha muito arejada.